2007/10/24

Ratices…

22H00. O som seco do besouro do velho PBX com caixa de madeira cor de mel avisa que alguém liga para a Esquadra a partir de uma linha externa.
- É da Esquadra?
- Muito boa noite; Esquadra do Rato, Largo do Rato, fala Rato, faça favor de dizer – atende o graduado de serviço, de uma forma cordial, cadenciada (quase cantada) e automática.
- Deixe-se de brincadeiras e passe-me ao chefe – replica do outro lado alguém, de voz arrogante, azeda e com aquele toque habitual naqueles que se julgam encontrarem-se no topo da pirâmide da sociedade.
- Certo meu caro senhor. Faça o favor de dizer; Esquadra do Rato, Largo do Rato, fala Rato – repete o homem que aquela hora representava a máxima autoridade de comando da esquadra.
Do outro lado da linha, notava-se, pela quantidade de grunhidos e impropérios, que havia ali uma falta de comunicação grave e tal não acontecia certamente por causa de algum problema técnico na linha – Oiça lá… “tá” a gozar com quem?
- Eu?! Gozar? Olhe, não entendo!!...
- Mau! De onde fala?
- Esquadra do Rato, Largo do Rato, fala Rato…
- Ai! Queres festa, queres, ai queres… queres! – Desabafou em sussurro enfastiado o irascível interlocutor - Eu não estou a gozar… faça favor quero falar com o chefe imediatamente, não quero mais conversas consigo, antes que isto azede.
- Faça favor, fala Rato…
- Rato? “Tás” a chamar-me rato? Olha lá, oh! Seu palhaço, estás a gozar com quem seu mal-educado? Vou já dizer-te quem é rato, oh seu ignorante. Que vergonha, fala-se para uma esquadra de polícia e atendem garotos que pensam que são mais espertos que os outros… já vais ver com quem te meteste, seu esperto. Vais ficar sem farda antes de saíres de serviço, seu… seu… já te digo!...
- Estou? Está lá? Esquadra do Rato, Largo do Rato, fala Rato… Olha, desligou! Ele há com cada maluco!
- Que se passa?! Caiu-lhe mal o jantar, Eh! Eh! – O Guarda-Principal Pereira não perdia nunca a oportunidade de brincar com o Rato.
-Não, não podia ter caído, porque ainda não acabei. Acabou de ligar para aí um tipo que, além de mal disposto, tem a mania que despe a farda à bófia!
- Quê? Mas, que queria ele?
- Sei lá, ligou pela externa, nem boa noite disse, perguntou se era da esquadra e depois, começou com uma conversa qualquer, que ainda não entendi; muito menos o que queria.
- Mau, mas, entrou assim a “matar”?
- Oh pá! O Gajo só queria falar com o chefe, não queria falar mais comigo, etc., etc.
- Algum mal disposto, com toda a certeza. Se precisar mesmo, volta a ligar. Anda, vai lá acabar de comer, que seguro aqui as pontas. Só recomeço a ronda daqui a meia hora.
- Obrigado, pá. Olha, as circulares já chegaram. Se houver alguma queixa, se não for nada de urgente, eu recebo assim que acabar.
Nem cinco minutos estavam decorridos e eis que, furibundo e com ar esgazeado, entra um indivíduo, já com idade para ter mais calma (e juízo, porque não?), que, ignorando o sentinela à porta da esquadra, se dirige ao guichet de atendimento e “dispara” com maus modos na direcção do Guarda Pereira:
- Quero apresentar duas queixas…
- Ora, muito boa noite, sou o Agente Pereira. O graduado de serviço está só a acabar de jantar, ele já lhe recebe a queixa. Antes de mais, diga-me, é grave? Que se passou? Tenha calma homem, está muito irritado. O que se passa e onde, que mando já passar lá uma patrulha!
- É contra os gajos do andar de cima, não param com a música em altos berros. Mas antes, quero queixar-me de um guarda daqui, que me atendeu o telefone… o quê, a jantar!? Então está um tipo aflito, e os senhores jantam? Francamente! Não bastava o outro a gozar comigo ao telefone, ainda tenho de ouvir coisas destas! Ah! Mas o tipo fica sem farda, ai, isso fica!
- Tenha calma e conte-me o que se passou – o Pereira, era perito em gerir conflitos e o seu estômago não azedava com facilidade – quem lhe atendeu o telefone e o que lhe disseram?
O desbocado homem, contou a sua história e o Pereira, ouviu atentamente e à medida que se ia apercebendo do sucedido, a sua expressão facial transformou-se de um inexpressivo olhar, para um sorriso de gozo.
- Está a achar piada? Se calhar foi o Senhor, não?
- Não, não fui, mas olhe, esse problema, ultrapassa as minhas competências, acho que vai mesmo de ter de falar com o chefe.
Alertado pelo chinfrim que o homem fazia, o Rato, dirige-se ao Hall de entrada da esquadra e colocando-se frente a frente com o irritado cidadão, olhando-o com uma calma burilada pelos muitos anos de experiência, interroga-o:
- Ora boa noite… Então, que se passa?
- Que se passa? É o Chefe?
- Sou, diga lá, o que o apoquenta?
O homem, conta o sucedido mais uma vez, tim-tim por tim-tim, sem se furtar a quaisquer pormenores e a meio da estória, já ao cívico passava, na sua mente, o epílogo do relato.
- Hummm! Pois, e agora? – Inquiriu o polícia.
- Agora, vai queixa contra o guarda. A mim ninguém goza, muito menos um analfabeto qualquer que pensa que vem lá da santa terrinha a brincar com os de cá! Nem ele sabe com quem se meteu! Veja lá que o tipo, chamou-me rato. Só dizia, “fala, rato”. Que vergonha! Nunca fui tão insultado!
- Calma, não lhe vai bater, pois não? – Atirou-lhe em tom sarcástico o Rato.
- Basta um telefonema e fica sem farda, antes de sair de serviço, ou julga o quê?
- Ah! Muito bem, então, quem fará isso? O senhor? Se quiser pode começar, mas talvez queira fazê-lo ali dentro, no vestiário, isto é, se conseguir. Aqui, além de estar muito frio, há muita gente e sou algo envergonhado, sabe. Parece mal e além disso, sempre vou vestindo a roupa civil.
- Quê? Como? – O tipo olha então para a placa de identificação ao peito do Cívico. Fica lívido, perde o pio e fica a abrir a boca como um peixe fora de água.
- Já agora, qual a sua graça, por favor – estendendo a mão ao outro, o Rato, apresenta-se – Subchefe Rato… simplesmente Rato para os amigos e para aqueles que vêm por bem.
- Eu… eu… bem, venho por cá noutro dia, que lembrei-me que tenho outras coisas para fazer.
- Estamos abertos 24 horas por dia, 365 dias por ano. Tem seis meses para formalizar queixa. Ah! E já agora, tenha uma muito boa noite.

2006/05/23

Nem tudo o que parece, é...


Lisboa, linha verde do Metro, 17H35.
Observo o tipo que se senta à minha frente. É o protótipo do viajante ocasional da toupeira urbana. Salta à vista; contrasta com os habituais utentes, esses que quase atingem o estatuto de residentes. Os olhos não param. Os dedos contorcem-se uns contra os outros num nervoso miudinho que complica o sistema nervoso ao mais paciente dos pacientes. Parece engolir com o olhar todos os recantos da carruagem; parafusos, publicidade, até os grafites improvisados, cravados a golpe de navalha em vidros e bancos (à falta de tinta urge o improviso), enfim, tudo aquilo que é visível dentro de um comboio. O meu companheiro de viagem encafuado, melhor, emparedado (quase espremido) entre a parede e uma matrona de carnes rechonchudas, humedecidas pelos grossos bagos de suor que brotam da sua pele e se misturam com o odor de perfume “made in Taiwan”, resfolegada no assento, que diga-se de passagem até para as minhas modestas e secas “assentadeiras” acho pequeno, olha em seu redor com a cara de terror que têm os aprisionados numa escura e tenebrosa caverna.
Consigo observá-lo sem que ele se aperceba. . Os óculos escuros, tipo “Martini-man”, são de uma eficácia total. Eis que dou por mim a ser observarvado dos pés à cabeça enquanto ele crê estar eu deliciado a mirar uns fantásticos (embora generosos, bem delineados) nadegueiros da jovem que se segue em pé no corredor, a meu lado, insistindo em manter aquela zona a escassos centímetros da minha cara. Nestas ocasiões, digo eu, bem que dava jeito a visão binocular autónoma dos camaleões; sempre se juntava o útil ao agradável, prestando mais atenção aos pormenores.
O tipo continua a mirar-me de uma forma que roça o “tirar as medidas”; reparo que faz o mesmo à ninfa que se sentou a meu lado ao mesmo tempo que eu o fiz. É atrevida e descontraída a moçoila. Não tem problemas em dar largas à sua área de acção e expande-se no assento, encostando-se a mim com uma descontracção que quem olhe de fora invejar-me-á (“um tipo destes com um naco daqueles” - seria o comentário de um observador mais atento!) Porra!!! Com tanta mulher aqui dentro, até o clone da Odete Santos, sentada ali mesmo à frente, teria a minha condescendência para com os olhares fixos e lascivos sobre a minha pessoa; agora um gajo, isso não, não é admissível.
Carteirista, não é. Pelo menos, conhecido meu, não é. Será aprendiz? Não vislumbro nenhum dos “habitues”, desde o mais cotizado ao menos hábil. Nem mesmo as “encostas” e “muletas” do costume se vislumbram. Será hoje o meu dia de sorte? Desde o Euro 2004 que não referencio novos mestres do abafo do “cabedal”.
Chego ao Intendente. Em manobra estudada, levanto-me com cuidado de modo a não ser notada a artilharia dissimulada sob a fralda da camisa. Coloco-me estrategicamente encostado ao varão central do patamar de saída. Coincidência? Bingo? O tipo secunda o meu gesto, levanta-se e quase se cola a mim e à jovem que viajava encostada a meu lado e que também veio para perto da porta. Mau! Ou vens para fazer a carteira ou então queres aliviar as carências afectivas… Dou-lhe o flanco (sei que se vão rir desta parte, mas não retirem a parte do contexto) na esperança que o gajo invista contra o bolso traseiro. Avanço para a porta, faço a paradinha e observo o “suspeito” através do reflexo do vidro da mesma. Eis que o fulano se aproxima, quase se encosta; aguardo a paragem e o solavanco fatal que dá a cobertura ao encontrão da praxe. Chegou o momento, abre-se a porta precipito-me, junto com os restantes para o exterior, mergulho no funil que os que aguardam entrada sempre formam, avanço para a gare e eis que, pelo canto do olho, observo a abonada cachopa que seguia junto a mim, rodopiando sobre um pé enquanto esganiça um “ai” e desfere uma real “latada”, daquelas à antiga, na cara do meu alvo.
Porco – grita ela.
Fodassss…!!! – lamuria ele.
Bem feito – replica um terceiro.
No meio disto, na minha condição de simples observador/respeitador, invejo o tipo. Afinal o mariola era um rebarbado qualquer, que sabia o que queria (claro que em matéria de limites, razoáveis, socialmente falando, era limitado) e arriscava a integridade do seu facies (e vergonha claro, isto contando que a tem!) em detrimento de uma fugaz passagem dos “garfos” pelo monumento visado. Que coragem!!
Subindo as escadas rolantes, ao passar por mim, a esfregar a cara no local do estrafegado impacto, o sacana, sorrindo, lança-me um olhar de triunfo e dispara:
- Porra, pensava que era a sua namorada, amigo…
- Pois, infelizmente não era! – replico em tom de gozo.
- Por isso, arrisquei… quem não arrisca!... G’anda cú… sim senhor, g’anda cú…
Lá foi o tipo; afinal conseguiu aquilo que queria (pago a preço de estalo, não de saldo, mas conseguiu).
Ele há tipos com uma lata!

Perseguição à americana com fim à portuguesa



Tal como me foi "superiormente" determinado, vou passar a postar semanalmente, sempre que seja possível, episódios do meu mister ou relacionados com ele. De alguns desses relatos fui testemunha, noutros interveniente. Outros ainda, são estórias que são verídicas e que numa Instituição daquelas, chegam sempre ao conhecimento da "malta"; claro que mantenho aqui o anonimato dos intervenientes daquelas situações mais jocosas; mas acreditem que lá dentro, a rapaziada não perdoa. Há muito humor neste pessoal; a imagem do durão é só para "os meninos comerem a sopa toda" (diga-se de passagem que no universo caseiro, não resultou nunca); a maioria que conheço (e conheço muitos, acreditem - ehehe) são uns corações de manteiga.

Para não variar, a dica estava certa. Naquela noite, o “dealer”, conforme o informador afirmara, estava à hora certa no local certo. Restava agora a perspicácia, paciência e sorte para que fosse fisgado com a boca na botija. O Bairro da Liberdade adormecido oferecia dentro da sua degradação total um óptimo disfarce para aguardar o “correio” que vinha do sul de Espanha, longe dos olhares incómodos da bófia, em especial dos tipos do giro, facilmente controláveis pela rotineira passagem das rondas em pontos chave. Os espreitas do bairro, quais batedores atentos às movimentações do inimigo, faziam parte do jogo de gato e rato entre polícias e traficantes.

Ficámos a observar. O chefe da equipa, do interior do 131 volumétrico/Abarth, estudava os movimentos do “mafioso”, longe do campo de visão deste, através do contacto rádio de uma outra brigada, estrategicamente colocada no interior da caixa de uma velhinha Transit, de vidros espelhados e pintura desgastada, ao lado da qual o meliante estacionara. Via rádio, um dos elementos da equipa sussurrava os pormenores da viatura alvo, de forma quase imperceptível, para não levantar suspeitas. Claro que as forças para falar com “vontade” não seriam lá muitas; eram cerca de 23H00 e estavam ali dentro daquela lata desde as 14H00, sem comer, beber, tossir ou mesmo mexer muito as pernas, de forma a não dar nas vistas. Incómodo, sem dúvida, garanto eu, mas imaginem a quantidade de coisas que, mesmo que se vá prevenido antes, dão vontade de fazer dentro de um espaço exíguo como aquele, que vão das necessidades mais básicas da fisiologia humana, à obrigatoriedade de comunicar unicamente por gestos ou por escrito. Não esquecer que nos inícios da década de noventa não havia toda a panóplia de meios de comunicação pessoal, com jogos extras e mensagens, bem tudo aquilo que agora nos inferniza a privacidade. Estava-se no advento dos jogos de tetris que, além de muito caros, quem os tinha, não conseguia tirá-los facilmente da esfera do poder dos seus petizes para queimar o tempo nestas longas esperas!!... Mas vamos à descrição da máquina do bandido. Sem dúvida, uma máquina de sonho. O Honda Prelude 4wd (brinquedo com quatro rodas direccionais), era um adversário de respeito. Os seus cento e muitos cavalos de potência não eram algo que preocupasse os quase 130 do Fiat, mas sim a mobilidade que aquela bomba esguia, de tracção dianteira e toda uma panóplia de inovações tecnológicas, por certo, bem mais jovem que o velhinho tracção posterior, que soprava a cada aceleração mais puxada e que fazia baixar o ponteiro do tanque de combustível. O bicho comia uma média de 22 aos cem, mas nunca deixara a malta envergonhada.

Vamos ao que interessa nesta estória. O tipo do Prelude sai e dirige-se à cabina telefónica plantada no passeio contíguo. Fala breves minutos e volta para o interior. Arranca com o carro, imprimindo logo de início uma velocidade digna de Senna (era o piloto da moda nessa altura), lançando o cavalo branco em condução violenta e descuidada pelo asfalto esburacado do bairro, passa a apertada ponte do Tarujo, ladeia o Casal da Sola. Pelas manobras, de imediato chegamos a uma conclusão. O correio alterou o local da entrega. O mais discretamente possível, a equipa do Abarth inicia a perseguição. O suspeito segue em direcção à Rua de Campolide, sobe esta e entra na Rua do Arco de Carvalhão, depois, Maria Pia; no entroncamento da Meia Laranja, sobe em direcção ao Cemitério dos Prazeres, contorna a rotunda e toma o caminho da zona das Amoreiras. Chegados aqui, observamos que um outro veículo, um BMW M-3 Baur faz sinais de luzes ao nosso “amigo” e ambos se precipitam para o interior do estacionamento subterrâneo de uma das torres. Após um pequeno compasso de espera, seguimos também para o interior. Atrás de nós, entra outra equipa que entretanto se juntara na discreta perseguição. Após alguns minutos de espera, saímos dos veículos e não tarda a detectarmos o Honda estacionado entre dois outros veículos. Do BMW, nem sinal de vida. Aguardamos o que a seguir se vai passar. As informações recolhidas já tinham apontado para a possibilidade de as negociatas serem efectuadas no interior de um escritório alugado no edifício. Ao fim de uma hora, um atento e diligente segurança intervém com um dos homens de atalaia. Informa-o que, mesmo sendo polícia, não pode permanecer naquela parte do estacionamento, já que é área reservada a residentes. O cívico identifica-se novamente e “educadamente” manda-o ir dar uma voltinha ao “bilhar grande”; ofendido, o vigilante lança para o seu intercomunicador portátil um relatório, à laia de queixinha, para o seu supervisor. O Chefe da equipa aproxima-se e mete água na fervura. O dedicado guarda do estacionamento, não vai na conversa da bófia, “estrilha” que nem um possesso (ainda hoje lamento não lhe ter dado motivos para chorar a sério) e começa a pedir reforços pelo rádio. Gera-se a confusão e o Comissário “convida-o” a entrar numa das viaturas policiais com um par de pulseiras para se entreter a procurar abri-las. Eis que no meio desta confusão, abre-se a porta de acesso aos elevadores de acesso aos escritórios e saem do seu interior os “negociantes”. De imediato se apercebem que algo não está bem e precipitam-se para o Honda. São seis, mas dois são dispensados dos serviços dos seus cobardes patrões; ficam logo ali, sem resistência, disparando um chorrilho de insultos para com a ex-entidade patronal. Enquanto isto, o Honda faz marcha-atrás, abalroa duas viaturas com o seu generoso pára-choques traseiro, estilo americano, e arranca pelas estreitas galerias do estacionamento. Acto contínuo, o Chefe da missão arranca conduzido pelo experiente motorista. Conseguem alcançar os fugitivos, quase se colam à traseira, mas não há espaço para ultrapassar. Os carros ressaltam nas bandas limitadoras de velocidade. Roda-se nuns vertiginosos 50/60 km/h. Os fugitivos não olham a despesas. Não tirando partido da tecnologia da máquina, de nada valem as quatro rodas direccionais batem em tudo o que se lhes atravessa no caminho. O veículo é mais longo que o “escorpião” que sopra atrás de si e que conta com a vantagem de ter tracção atrás. O Chefe abre então o tejadilho do Fiat, finca os pés na consola e na pega da porta do pendura, encosta as costas à janela do tecto, empunha com ambas as mãos a PPK, apoia os braços sobre o tejadilho e efectua vários disparos na direcção dos pneus da viatura em fuga. De nada vale. Os tipos não se intimidam. O Honda parece ter ganho uns cavalos extra com aquela saraivada de chumbo sibilante e é então que o Comissário começa a gritar com o condutor:

- Mais rápido com esta merda, que está a fugir….

O Motorista acelera, o vacuómetro entra no red-line, a máquina debita toda a sua força aventa-a para as rodas, aproxima-se do Honda e eis que do nada surge uma densa parede de espesso fumo branco que invade todo o campo de visibilidade da viatura policial. Perante isto, o motorista trava a fundo, por milagre não bate em carros estacionados. O Chefe, encolerizado grita, barafusta:

- Os tipos estavam à espera de ser interceptados; têm sistema de fumigação para fuga avance já, basta seguir o rasto de fumo que apanhamos os gajos lá fora. Arranque esta medra; porra, de que está à espera?-grita colérico.

O pobre motorista, desesperado sai do carro e grita – Acabou, não dá mais!...

- Arranque, já disse, é uma ordem, que raio! – tornou o comissário verde de ira.

- Veja se consegue o Sr. – replicou o motorista.

- Eu? Mas quem manda aqui?!?!? É uma ordem, ponha já o carro em andamento. – continuou a disparar o chefe enquanto entrava no carro.

Ao entrar no carro, desapareceu literalmente no meio de uma mancha de fumo branco. Breves segundos bastaram para reaparecer do meio daquele misterioso nevoeiro; D.Sebastião (se aparecer, como reza a história) não fará melhor, estou certo. Olha para o motorista, aproxima-se deste, que se encontra em frente ao capôt e ambos olham estarrecidos para a lata. O dedicado comissário depressa conclui que aqueles furinhos, bem ali na zona do radiador da máquina não deveriam ali estar. De imediato, do alto da sua altivez, defendeu o seu orgulho (e falta de pontaria), escondendo a brecha nele aberta, lamentando a fuga do criminoso e rematando: - Mais um pouco e os tipos tinham-nos limpo, tanto a mim, como a si - disse pondo o braço confortador sobre o desolado motorista. O Escorpião estava ferido, não por outro da mesma espécie, mas por quatro “pulgas” de chumbo com uns meros 10 gramas cada.

Em tempo:

Resta referir que nem tudo acabou mal; o perseguido acabou por ser interceptado à entrada do Viaduto Duarte Pacheco por carros patrulha entretanto informados da ocorrência.

Publicado por Jocarvalho no Blog DIAS QUE VOAM

O Meu primeiro "Derby" em Alvalade

Naquela noite, Alvalade dava a imagem das imediações de um circo Romano em dia de combate de gladiadores. O estádio estava a rebentar pelas costuras. O folclore da semana transferira-se para aquela zona da cidade e dentro daquele Coliseu dos tempos modernos, há muito que tinham começado os habituais mimos e “jogos florais” entre as claques de Sporting e Benfica. O cheiro das bifanas, coiratos, tabaco e maconha, embrenhados na roupa, misturavam-se com o colorido das cores dos clubes em disputa, enquanto milhares de almas, muitas delas toldadas pela cerveja consumida às litradas, procuravam a porta de acesso ao interior da arena, torneando os grupos de comentadores de ocasião, histórias visionárias acerca do resultado final, candongueiros, carteiristas e borlistas de ocasião. A visão deste ambiente não era para mim novidade. Não era a primeira vez que visitava o Estádio José de Alvalade e o ambiente não me era de todo desconhecido. Mas, ao contrário das visitas anteriores, esta era a primeira vez que ia a um jogo de futebol como agente de polícia, enquadrado num policiamento desportivo. Era o meu primeiro serviço de piquete na Divisão e como tal, estava afastado das escalas de remunerado, passando assim a integrar as secções destinadas a reforçar os acessos e posteriormente a reforçar o interior do recinto, prontos para acorrer a alterações graves da ordem.

Já estavam decorridos alguns minutos do início da partida quando o subchefe, comandante da secção, recebeu ordens para que nos dispuséssemos no interior do recinto, ao longo das vedações do topo sul do estádio. Pela primeira vez na minha vida a minha visão do interior de um grande jogo, ia ter uma perspectiva do relvado para a assistência e não ao contrário, como estava habituado. Se a imagem, em dias de jogos importantes, é por demais impressionante, com todo o clima gerado em volta de um acontecimento desportivo, a visão dali, a partir do relvado, faz com que nos sintamos pequeninos. Compreendi de imediato, de onde advinha aquela sensação de grandiosidade, quase impunidade que se sente, quando se está no meio daquela mole imensa de gente em relação aos minúsculos intervenientes no espectáculo que deambulam pelo recinto de jogo e área limítrofe. Só de olhar impressiona. Ali, bem à minha frente, encontravam-se uns milhares de furiosos adeptos, que há minha entrada me presentearam, juntamente com os meus camaradas, com uma monumental assobiadela, secundada de uma série de impropérios, insultos e ameaças, em tom de desafio e desfolhando um autêntico mostruário de gestos obscenos que iam da clássica representação fálica com o dedo às mais arrojadas referências a actos de sodomia, algumas com exibição dos atributos genitais. Animais, pensei eu para os meus botões; mas tinha que manter a calma e deixar pedidos de explicações para segundas núpcias. A ordem era clara. Não perder de vista o que se passava dentro das bancadas e evitar a todo o custo a tentação de apreciar a evolução dos jogadores em campo, sob pena de ser vítima de agressão e para controlar os mais atrevidos, evitando tentativas de invasão de campo ou detectar escaramuças entre a assistência.

À meia hora de jogo, já o terreno junto a mim estava pejado de todo o tipo de objectos possíveis e imagináveis. O espólio depositado na pista de tartan ia do mais banal dos isqueiros descartáveis aos mais variados tipos de rádio-transístores (melhor, o que deles sobrava), passando por uma variedade de peças de fruta, que dariam, passo o exagero, para fornecer a cantina dos sem-abrigo dos Anjos por várias semanas, garrafas de água, algumas com o resultado da destilação de bexigas mais aflitas, guarda-chuvas, etc. etc. Felizmente que entre estes “atletas”, dignos de helénicos discóbolos, esses atributos não se aplicavam a outro tipo de lançamentos, de cariz mais nojento, que se ficavam a meio caminho nas suas curtas trajectórias entre a boca e o ponto onde nos encontrávamos. Talvez com um caroço de abrunho ou ameixa fossem mais eficazes, mas essas munições, destinavam-se a fazer lastro aos frutos arremessados manualmente. Quanto ao restante do espectáculo, já que mal dava para espreitar a jogatina, ia apreciando o ambiente que se desenvolvia em redor. As caras transfiguradas a cada jogada perdida, os gritos a cada golo falhado, ondeavam pela massa adepta, ondeada a cada instante pelos chorrilhos decadentes e do mais baixo pasquim dirigidos em especial aos árbitros, jogadores e claro, aos adeptos adversários. Muito bem, assim, já não era o único a ser presenteado com tão graves espinhos à minha “entrada em campo". O ambiente era de inferno, um ensurdecedor inferno. A batalha estava no auge.

- Então pá, está tudo bem? – perguntou aos berros o subchefe, apercebendo-se da minha surpresa perante o espectáculo.

- Porra, esta merda mete medo, chefe!... Se saem dali para fora, aqueles tipos vão dar um trabalho do caraças!!... - gritei eu.

- Reza para que não saiam... reza...

O árbitro apitou para o descanso...



Recomeçou a partida. Lagartos e Lampiões, mimavam-se com os pregões e gritos de guerra do costume, arrancando sorrisos entre a assistência e mesmo entre os polícias, que não perdiam a oportunidade de dar uma bicada na preferência clubista do camarada do lado. O Nogueira, rapaz do Marco de Canavezes, indefectível benfiquista, já me tinha lançado umas farpas e eu ia-lhe respondendo com umas bordadas dignas de leão, quando a nossa disputa verbal foi interrompida pelo comandante da força, informando que poderíamos ir comer algo assim que chegassem os agentes que já tinham ido fazê-lo. Agradecemos e aguardámos a sua chegada, para podermos aquecer a fornalha, que já pedia combustível. Enquanto vinham e não vinham, observávamos um colega, que de forma insistente se baixava e esfregava os gémeos. Era o nosso “sindicalista” – à data, ainda não havia liberdade sindical, nem mesmo associativa na PSP – um veterano na casa dos cinquenta e muitos anos, grande lutador, desde a primeira hora, dos direitos socioprofissionais dos polícias e precursor das primeiras lutas da classe em prol da causa e que além da alcunha de “sindicalista” era mui respeitosamente designado por “velhote”.

- O velhote anda mesmo nas últimas. É triste, com uma idade destas ainda se arrasta pelo piquete e na a bola! – disse o Nogueira em tom indignado.

- Sabes que a contestação, a maioria das vezes paga-se cara, cá na casa – respondi continuando – não sei porque não faz uma exposição ao comando a comunicar a situação; com esta idade já deveria andar mais resguardado. Mas parece que anda aqui por gosto, mesmo sem poder…

- Sacanice é o que é. Repara, já não deve poder com as pernas. Não pára de se baixar e mexer nos tornozelos e ninguém vê estas coisas, ou melhor, vêem mas estão-se nas tintas. Claro que o homem podia dar menos nas vistas. Em vez de circular no perímetro, insiste em andar ali, em círculos, ao alcance dos gajos da Juveleo. Não tarda nada, cai-lhe o gradeamento em cima ou sujeita-se a levar com um pêro!

Estávamos nós nesta conversa, e chegou a ordem:

- Quinze minutos, meus senhores – gritou o subchefe – nem mais um segundo.

Lá fomos nós, cinco agentes esfomeados a caminho da carripana das bifanas do Mário. O “sindicalista” foi connosco.

- Já aperta a fomeca, não!? - aventei eu.

- Já comia um boi; estes filhos da mãe não se calam! Logo eu que não gramo esta gaita nem um bocadinho! Andam para aqui a ganhar fortunas e a maioria desta gente toda a tinir sem cheta. O mais bonito é que aplaudem! Vão gozar com outro, valha-me Deus! Mas há pior. Vamos mas é à bifana…

- Deixe lá, não adianta esse protesto. Eles não lhe pagam o jantar, eh, eh, eh! – atiçou Nogueira; este sabia que o velhote, embora lhe fossem reconhecidos vários valores morais e rectidão, chorava cada tostão que gastava, em especial na hora de serviço.

- Estes cabrões vão pagar isto muito caro. – replicou o Sindicalista olhando pelo canto do olho para a claque em polvorosa que nos apupava e tentava atingir com mais uma variedade de objectos – até as bifanas, sacanas - terminou entre dentes.

- Ora esqueça isso, agora vamos comer, que já falta pouco. A propósito, essas pernas estão firmes?

- Como o aço, colega, como o aço…

Chegados à carrinha do Mário, onde num ápice, cada um devorou a sua bifana regada com sumo (para não parecer mal), quando nos dispúnhamos pagar a despesa, eis que o velhote, tira a mão ao bolso cheia de moedas de 50 e 100 escudos e dirigindo-se ao empregado do tasco ambulante diz-lhe:

- Pague a despesa toda daqui.

- Só paga as bifanas, “Sô” Guarda. As bebidas, o patrão oferece… é regra da casa.

- Nada disso. Pague tudo daí, que faço questão; fica para a próxima – voltou o velho.

De nada adiantou dizer-lhe para não fazer aquilo, que a vida custa a todos, etc., mas o homem insistiu de tal forma, que nos vimos obrigados a aceitar. Pelo menos ficava o alívio de não ter feito o choradinho para as bifanas serem oferecidas!

Tínhamos acabado de regressar ao local de serviço e já o nosso sindicalista tomava de novo o seu posto, não tardando a retomar o estranho exercício de acariciar os gémeos. Ou o velho fazia ronha ou então, dava-se melhor com as caminhadas, coitado. Aproximei-me dele e tentei moralizá-lo:

- Calma, não tarda nada, isto acaba. Não deve demorar e vamos embora descansar as pernas. As minhas também já estão a dar sinal.

O sindicalista olhou-me com cara admirada.

- Não me diga, que o Cruz já está derreado com uma idade dessas?

- Não é bem isso. Estou mais com falta de paciência para estar aqui a levar com estes tipos. Preferia estar ali, na parte de cima.

- Qual quê! Aqui é que é bom, rapaz. É melhor aqui… além disso, ainda tem muitos jogos pela frente, por isso vá-se preparando... e sempre tem a vantagem de comer uma bifaninha à borla, que quer mais?

- Ora, já agora, não faltava mais nada! Agradeço a bifana, mas para a próxima paga a malta.

- Paga lá agora. Enquanto vier à bola, quem está de piquete com o velho, não precisa de trazer guita para o jantar! – riu-se ele.

- Eh, pá! Saiu-lhe o totoloto, ou quê? A vida custa a todos. Você não tem de andar para aí a pagar bifanas aos colegas…

- Quem lhe disse a si que fui eu quem pagou?

- Eu vi-o pagar – ou estava a gozar comigo, ou o velho estava a passar-se da cabeça, pensei.

- Nada disso! Isso pensa você! – tornou enquanto pela enésima vez se baixava. Afagou languidamente o gémeo da perna direita, prolongou um pouco mais o gesto da mão em direcção ao tartan da pista, apanhou algo do solo – Aos anos que não gasto um tostão na bola, desde que esteja de piquete e venha para o topo sul. Nem eu nem os colegas que estão comigo… então nos jogos grandes, é uma maravilha.

- Bolas, está visto, você é um benemérito – gracejei.

- Nada disso seu maçarico! – abriu a palma da mão, mostrando-me uma moeda de 50 escudos; era o objecto que segundos antes tinha apanhado do solo – a bicharada aí atrás, encarrega-se disso. Pena que não enviem mais das de duzentos paus.

O guarda - freio...



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Se há alguém digno de ser apontado como o arquétipo do velho polícia à portuguesa, o Lisboa foi, sem sombra de dúvidas, um dos seus legítimos representantes. Dotado de um proeminente ventre, legado de um passado boémio e bem regado, avesso a grandes desmandos de cultura do físico, fruto de uma incorporação dos finais da década de sessenta de mil e novecentos, este colossal cívico, versão portuguesa do Bud Spencer, era uma presença que só por si impunha tanto respeito quanto 10 homens ditos “normais”. O tipo era mesmo uma “besta”. Faça-se justiça e acrescente-se a estes atributos humanos, mais discutíveis nos dias de hoje que à época em que foi repescado à tropa ultramarina, que Lisboa era mesmo um Homem com “H” directamente proporcional às suas dimensões. Um rapaz daquele tamanho só podia ter um coração condicente com o seu físico e ele era a prova disso. Amigo do amigo, espírito de serviço cívico, sempre pronto para ajudar o oprimido, pautando a aplicação da Justiça e reposição da ordem segundo princípios muito personalizados. Não são poucas as “palmadas” distribuídas a colegas requisitados pela DGS ou episódios nunca bem esclarecidos por Agentes da polícia política misteriosamente mimados por ele quando em acto de serviço de duvidosa justiça. A Justiça "injusta" para ele não contava e talvez seja ele um dos muitos que também lutou contra o sistema pré-revolução, à sua maneira, o que prova que os “chuis”, ao contrário do que ainda se tenta fazer passar, não eram uma maioria de colaboracionistas, mas isso são outras estórias que ficam por contar.

A mais célebre e verídica história do Lisboa é deliciosa, quando ouvida por contemporâneos seus. Conheci-o já nos seus últimos 10 anos de polícia e nunca foi de cantar os seus feitos ou gabar-se das suas tropelias.

A primeira actividade pública do Lisboa passara pelo serviço na Companhia Carris de Ferro, como guarda-freios. Depois do serviço militar, decidiu-se a trocar a monotonia dos carris pela maior mobilidade da patrulha policial. Lisboa foi para a rainha das Esquadras de Lisboa, a emblemática Esquadra do Bairro Alto. Consta que certo dia, tinha ele saído de serviço e decidira ir ao Cais do Sodré para tomar um eléctrico para Santo Amaro. Para sua surpresa, na paragem, encontrava-se àquela hora, um número anormal de passageiros que aguardavam o carro. De certeza que algum automobilista deixara o carro mal estacionado algures e impedia a passagem do amarelo. Não demorou a constatar as suas conjecturas. A pouco mais de cinquenta metros dali, via-se um magote de gente em volta do "almanjarra" – com publicidade à Sandeman, imagino – e não um, mas dois veículos estacionados à frente deste. Conseguiu ver também o guarda-freio, bem como dois colegas seus que tinham acabado de sair de um “carocha-nívea”. Os cinzentos estavam ali e não faziam nada mais que acalmar a populaça indignada. Temendo mais chegar tarde ao seus destino que pela segurança dos seus camaradas (nestes tempos pouco se questionava a autoridade dos polícias), o nosso amigo dirigiu-se até ao local do “entupimento” da via. Lá estava o funcionário dos transportes a lamentar a sua sorte, a populaça indignada com os descuidados automobilistas e os polícias a tomar notas. Olhou demoradamente para o eléctrico e para os carros em infracção. Voltou-se para o seu ex-colega da Carris e disparou:

- Então a “avantesma” avariou, é?

- Avariou nada, Sr. Guarda. Os palhaços que deixaram os carros estacionados aqui é que não deixam passar – respondeu o guarda-freio.

- Hum! Será que não passa – voltou o Lisboa enquanto subia para o posto de condução.

Os poucos anos, que andara agarrado àqueles comandos, tinham-lhe dado a experiência necessária para se aperceber de imediato que o carro passava. O condutor é que estava a “empastelar” por birra ou por outro motivo qualquer, que pouco lhe importava.

- Olhe que passa e passa bem – disse ao guarda-freio.

- Olha agora este! Quem diz se passa ou não passa sou eu. Meta-se naquilo que sabe – retorquiu o funcionário crescendo com os seus raquíticos 60 kg contra os mais de 120 do cívico.

O teimoso guarda-freio teve talvez um anjo da guarda que nesse dia o impediu de ser pulverizado por uma marretada de punho digna do martelo de Thor. Lisboa, sobe novamente para a roda de comando, destrava o eléctrico e diz então à multidão:

- Quem quiser vir, é entrar agora, que vai arrancar…

- Vou participar de si – ameaçou o guarda-freio em valoroso contra-ataque, tentando afastar o polícia dos comandos da máquina. Porém, ao tentar fazê-lo, o pobre coitado escorrega, cai e bate com a cabeça no varão de entrada perdendo a consciência. O Lisboa agarra no tipo, senta-o ao lado de um passageiro e determina aos colegas que escoltem o eléctrico até à sede da Carris.

- Última chamada; quem quiser entrar, entre agora, que isto só para em Santo Amaro

E o eléctrico lá passou… directo a Santo Amaro.